terça-feira, 17 de janeiro de 2012

16/01/2012 Comentário

Entrevista de Betânia é evasiva quando se trata de um planejamento Educacional

Por: Fátima Cardoso (Coordenadora geral do Sinte-RN)
Após um ano de atuação, o balanço que Betânia Ramalho faz da Educação Estadual é o mesmo que fez no primeiro mês em que esteve à frente da Secretaria. A velha desculpa de descontinuidade foi um dos motes da entrevista que concedeu ao Poti, na edição do dia 15 deste mês. Tanto que, apesar de ter reconhecido os problemas existentes na rede de ensino usou o tradicional clichê “não se resolve tudo do dia para a noite”. De fato, não dá para resolver os problemas de um sistema que atende a um Estado inteiro “do dia para a noite”, mas durante um ano é possível que se faça algo. E o que foi feito em 2011? Pelo que se vê a pergunta continuará sem resposta.
Em sua entrevista, a secretária foi pouco propositiva. A velha retórica, a profunda raiva ao movimento dos trabalhadores e o desejo de cercear as liberdades também foram notados. Porém devo reconhecer a fidelidade da secretária ao cargo, bem como a natureza e a relevância do contexto em que ela fez o balanço, e que por isso não é capaz de citar ações de uma política de Estado para a Educação do RN.
Perguntada sobre as maiores dificuldades, logo utilizou a greve como uma desgraça para a sua gestão. Esqueceu que o movimento só seria de cunho político se o cumprimento do piso salarial tivesse sido feito em janeiro de 2011. Mas, há de se convir que todo ato é político. E que é político também receber a direção do Sindicato para dialogar. Mas enquanto se perde tempo discutindo o que é ou não político, o que temos de certo é que a última audiência do Sindicato com a secretária ocorreu em 22 de agosto de 2011. E adiar a resolução de problemas pode não ser tão político assim. O que seria político para nós se materializa no cumprimento do que foi assinado em 20 de julho de 2011. Mas isso até agora não tem sido considerado como tal pela SEEC.
Estamos vivendo mais um momento de silêncio. Se for verdade que o governo continuará cumprindo a lei, por que não anunciar ao Sinte a implementação do percentual na carreira do magistério dos 22,22% na folha de janeiro? O que o Governo está esperando? Desde 2011 se conhece o percentual de correção do piso para este ano, logo, não há porque se adiar esse anúncio.
Se for verdade que o Estado não tem dívidas, que seja respondido à sociedade o motivo pelo qual o concurso público deixou de ser retórica somente com várias audiências com a Justiça e após a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta. Se a palavra de ordem é excelência, como torná-la real se já foi anunciada a contratação de estagiários? Isso é um pouco contraditório, não? Foi reconhecido pela própria secretária que a Educação do Estado deve ir muito além do processo de ensino e aprendizagem. Foi admitido também que a insuficiência de uma infraestrutura adequada nas escolas continuará não mobilizando o ensino público e que se precise de Professores e de planejamento.
No entanto, a secretária não discorreu sobre o planejamento dos princípios e diretrizes para a Educação do RN e ainda trouxe à tona algo que nos preocupa muito: a fragmentação de projetos financiados pelo banco mundial e por empresas privadas. Que mobilização foi feita para iniciar o processo de Articulação do Sistema de Educação do nosso Estado? Onde está a dificuldade de mobilizar a sociedade para a elaboração, o debate e a aprovação do Plano Estadual de Educação?
Como não lembrar que estudantes estão encerrando o ano letivo sem ter assistido uma só aula de determinados componentes curriculares? Mas, isso acontece. Onde trabalho, por exemplo, a direção passou o ano inteiro solicitando um professor para uma turma de Ciências e até agora os alunos continuam sem ver este conteúdo. É o velho ditado: faça o que digo, mas não faça o que faço.
Críticas à greve
Por outro lado, é preciso fazermos uma autocrítica. Inclusive para descobrir porque os estudantes - mesmo sabendo do dilema que lhe toma com a greve - não culpam os profissionais.
As raízes do desencanto com o ensino público não está nas greves ocorridas de 1979 até hoje. A greve é uma consequência da negação de um Estado de Direito. São por estes movimentos que a sociedade consegue denunciar os desgovernos e provocar uma melhor saúde social. Quanto prejuízo tem a população ao submeter-se a conviver com insalubridade, riscos e perigos que os prédios escolares na sua grande maioria oferecem!
Ficam no silêncio, os inocentes sem voz. Correm o risco da ameaça e de censura aqueles que não deixam pisarem seu jardim. Aos poucos são tecidas as contradições. O movimento histórico restabelece a luz dos conflitos a verdade. A negação se torna uma verdade. A verdade passa a ser negada. Usando um pouco da dialética, como explicar a falta de tolerância se a população vem exercitando este princípio? E é por essa razão que existe a cumplicidade deste Sindicato com a população. Temos algo em comum: expectativas.
Não é lógico afirmar que decorrido um ano não se percebeu a forma e o método para se chegar a reestruturação do sistema de ensino? Apontem em que momento se deu essa materialização. Assim acataremos não como um hediondo e mortífero objeto recuso a pretensa idéia de cegueira moral e ética.
Não existe greve anunciada. Existe a defesa e promoção da educação e seus profissionais. Em razão da clareza que temos não podemos afirmar qual a dimensão da luta a ser feita. Uma coisa é certa: só depende do governo. A sociedade espera deste Sindicato coerência e do Governo o cumprimento de suas responsabilidades. A nossa parte faremos. Agora já estamos a cobrar a responsabilidade do governo em corrigir os salários dos professores em 22,22% em janeiro e aplicar de imediatos a tabela de salários dos Funcionários.
Leia aqui a entrevista completa com a secretária.

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